quinta-feira, 30 de janeiro de 2014



Para: Natália Teixeira

Obs: Continuação do poema "No nascer do sol"


No nascer do sol II

Aquele alguém  veio ao meu encontro
Não decidir o dia, nem a hora e o lugar.
Esperei sua alma vir me encontrar.

Sempre conseguir descrever o que sinto
Mas nunca conseguirei dizer
O quanto amo você

Cada dia longe do seu abraço
Fortalece mais o que sinto
As lágrimas que caem de mim
Já não são de tristeza..
A alegria também faz chorar
Sorrir... Se apaixonar...

O seu amor jamais irei esquecer
Não há ninguém igual a você
Se é por seu nome que eu clamo
É porque é você que amo...

A alegria está onde você está
A paz  existe ao te encontrar
E se um dia a vida afastar você de mim
 Tempestades podem surgi
O mundo pode acabar
Nada poderá mudar o que
A vida fez começar
 E no nascer do sol ..dessa vez

Eu irei te encontrar.

                                                      ( Valeska /†Leska†)


terça-feira, 13 de agosto de 2013


AMOR PLATÔNICO

E o que faço?
Com essa angústia de não saber
Se me amas ou se vai me esquecer...

Nem sei se é amor
Essa sensação difícil de dizer
Sou apenas eu... simples... tranquila
Pouco pra você

Essa pele clara
Não merece meu abraço
Esse rosto meigo
Não merece o meu eu te amo
Mas por você eu clamo

Não posso te olhar nos olhos
Eles me distraem
Talvez seja melhor assim como estar
Você longe de mim
Para que não possas te olhar
Do que você por perto
Sem poder te tocar

Assim vou seguindo a vida
Sabendo que um dia irei te esquecer
Espero que não se arrependas
De ter me causado dor
Hoje é dia da caça
Amanhã do caçador

Não saberei o que sentia
Nem o que pensava
Irei te olhar como uma lembrança
Mais nada...

                                           ( Valeska / †Leska†)

terça-feira, 6 de agosto de 2013



Sombras

No silêncio me espalho
Minha alma fala por mim
Aquilo que cantava
Hoje já não canta mais
Sem inicio, sem meio, sem fim

Voz rouca falhada
Pontadas fortes na garganta
 O ruído do meu arfar
Começa a mostrar
Que o silêncio que aqui estava
Não vai continuar

Lugar escuro...
Até meus olhos enxergam
O que não quero enxergar
E minha mente confusa não sabe distinguir
O que não é real e no que devo acreditar

Essas sombras existem
Mas nada as fazem refletir
Se olho me perco, fico confusa.
Há alguém ali?

Como sopradas pelo vento
 Vão preenchendo meu espaço
E não importa tudo que fiz
Tudo que faço...
Elas sempre vão existir
No meu caminho, seguindo meus passos.


                                                   (Valeska/ † Leska †)







quinta-feira, 1 de agosto de 2013

FINAL ALTERNATIVO DO LIVRO CANTE PARA EU DORMI

Autora: Valeska Regina

CAPITULO 31

Uma luz fraca da aurora entra no quarto. Seus olhos se abrem, sua boca desenha um sorriso. Ele já parece um anjo.
Ninguém se mexe quando sua respiração para.
--- Adeus, meu menino --- sua mãe abaixa e beija sua testa.
Seu pai dá palmadinhas em sua cabeça, de um jeito constrangido e masculino.
--- Você lutou bem, filho.
Meu corpo congela extremamente rápido desejando que ele esteja apenas respirando devagar, tão devagar que ao menos não consigo ver seu peito inflar. E ainda assim, não consigo parar de cantar. O pai do Derek sai lentamente do quarto e para na porta, sua mão encontra os olhos com facilidade e mesmo sem olhar para trás percebo se formar em seu rosto uma linha fina e delicada de lágrima.  --- finalmente consigo voltar do hipnotismo que aquela cena me fez passar, pisco duas vezes não concordando com a situação. Minha voz falha interrompendo a música. Cadê as enfermeiras? Meg?
Corro até o botão branco na cama e aperto uma, duas até quatro vezes. Meg vem correndo. E eu quebro a promessa que fiz ao meu reflexo no espelho, lágrimas aparecem como tempestade caindo e se espalhando tão rápido que não tenho tempo de limpa-las.  --- outras enfermeiras entram rapidamente no quarto. Fico ali parada ao lado da cama.
---- Calma, calma é melhor que você se afaste.   ---- Meg segura meu braço me afastando para trás me distanciando cada vez mais dele.
Aquele ataque que havia prometido quase acontece. Só que dessa vez Derek não estava me desafiando, estava fora de seu corpo. Nenhum suspiro, nenhum ruído. --- ele não morreu --- sussurro soletrando cada palavra, sentindo as mãos de Meg me libertando.
--- Beth ... --- a mãe do Derek pega meu ombro. --- Ele descansará.  --- Nem mesmo ela consegue ser tão reconfortante, olho –a tentando entender o porquê de tanta conformidade.
--- Ele já passou por tanta coisa nessa vida, você precisa deixa-lo partir. --- observo a expressão do rosto dela, olhos vermelhos e inchados. Volto a olhar para Derek que agora esta mais azul do que o de costume. --- Não posso deixa-lo! Não quero! Será que isso é egoísmo demais?? O que vou fazer agora? 
--- Beth, precisamos tira-lo daqui. --- Meg me olha com lágrimas rolando pelo rosto.  --- continuo olhando para Derek, esperando que ele abra os olhos e volte para mim outra vez. Assim, num passe de mágica. Como nos livros infantis que minha mãe costumava a ler para mim, mesmo sendo a Fera ainda sentia amor. Mas nunca pensei que alguém sairia dos livros e me fizesse amar.
--- Não, quero ficar... --- minha voz quase não sair. Meg não insistiu e nem me tirou dali como uma louca.  --- ela vai para o outro lado da cama e observa as máquinas e os equipamentos para serem desligados.
Aproximo a cadeira para mais perto da cama e sento.
 As outras enfermeiras saem do quarto assim como os pais do Derek. Percebo que a mãe dele apoia-se ao marido sussurrando algo como Não sei se vou conseguir, Não sei ... logo as palavras são interrompidas por choros abafados. Agora me dou conta de que não sei o nome deles e nem lembrei de perguntar. Que espécie de namorada eu sou? Olho para Meg, agora ela esta removendo a máscara de oxigênio lentamente, parecendo não querer fazer aquilo. – ela ainda não desligou as máquinas. Volto para Derek, que mesmo não estando mais ali, minha vontade é de senti-lo novamente.
         --- Posso me despedir dele sozinha? --- pergunto olhando para Derek depois meus olhos encontram Meg. --- ela demorou um pouco responder.
          -- Sim, claro.  – espero ela sair para poder me sentir á vontade.
         Levanto, deito com ele na cama, fico de lado.
        Encosto meus lábios nos dele. Olho para seu rosto azulado e encolho minha cabeça para chegar ao seu peito, sem sentir nada bater.



O Corpo
...............................................................................................................................
                                                                                                           Capitulo 32 




    “ Cante para me despertar ”
A
s lágrimas caem pesadas escorrendo pelo meu nariz e caindo sob o peito de Derek, elas se acumulam na sua pele pálida formando um pequeno laguinho de lágrimas. Não sinto o frio, como dos corpos de cadáveres. Estranho.
--- Você não devia ir embora assim.  --- sussurro através do choro, quase não consigo me ouvir.
Procuro ficar imóvel, apenas sentindo seu peito macio de lágrimas. Meus dedos deslizam formando o contorno do seu outro peito, vejo a seringa ainda espetada, e sigo com os olhos até o tubo estreito que ela se transforma.
--- Não vá...  --- Suspiro firme.  --- eu sei você não me ouve. – Ah, Deus.
Fecho os olhos e continuo suplicando:
--- Eu não consigo Derek... – sussurro assim como sua mãe. --- não existe outra pessoa que me faça sentir assim. --- outra lágrima cai encharcando a pele pálida que ainda não esfriou.
Por mais que eu goste do Scott não há lugar dentro de mim que me faça sentir algo diferente do que senti minha vida toda por ele, não sinto aquilo que se chama de amor.  --- Ah, o amor. – olho para o rosto do Derek. Demorei anos para sentir e semanas para perder.        
--- Volte para mim, meu amor, por favor.  --- sei que ele não vai voltar, mas ainda assim espero que Derek reaja a meu apelo.
Mordo os lábios, e seco os olhos com a palma da mão, tentando não fazer muito movimento. Lembro de alguns rabiscos que fiz assim que cheguei de Lausana. Derek não iria gostar de ouvir, escrevi quando me tranquei no quarto, esperando que ele fosse até mim dizendo que me ama. E ele foi embora. – Pensei que iria perdê-lo para sempre.
Minha mão se abre em cima do seu coração, sinto sua pele meio morna ainda. Fecho os olhos e canto:
Sonho com uma eternidade
Ao seu lado
Uma vida inteira
Ao seu lado
Diga que me ama, e eu te amarei
                              Com todo o meu coração
Não vá embora da minha vida
Você curou todas as feridas
Presas em mim
Na hora certa, no momento perfeito
Seu beijo me mostrou a verdade
Que jamais esqueci
Nossos destinos estavam traçados
No momento em que nasci...

Não abro os olhos, com medo do que posso ver. Apenas continuo cantando a cada lágrima que cai e rola pelo meu rosto. Fica difícil cantar assim, mas não me preocupo com minha voz misturada a lágrimas salgadas, assim como o gosto do Derek. Respiro fundo e continuo cada vez mais alto:
E se um dia quiseres ir embora...
Pelo menos deixa á porta aberta
Assim você pode voltar.

Sinto uma batida leve e fraca na mão – quase caio da cama. Abro os olhos assustada – Derek !  -- Avanço em seu pescoço, beijo sua boca sem a noção de como aquilo poderia afeta sua respiração ofegante -- Deus! Ele esta aqui de volta. Oh Deus obrigada.
Ele quase não consegue falar.
-- Beet...  – tenta respirar com força, mas não consegue. O esforço acaba numa tosse fraca para ser ouvida de longe
 Corro até as máquinas que mostra os batimentos. – estão leves como uma pluma. Pego a máscara de oxigênio e fico segurando no seu rosto.
-- Derek ! Calma, calma amor, respira --- tento esticar a mão vazia até o outro lado da cama. --- isso respire.
Minha mão trêmula encontra o botão de assistência enquanto Derek tenta sugar mais oxigênio – aperto várias vezes. Acho que devo ter quebrado – ele respira cada vez mais rápido e ofegante. Cada batimento parece ser o último. Minha vontade é de gritar, mas Meg chega acompanhada de várias enfermeiras --- saio de perto da cama para elas assumirem suas posições --- ele está aqui, de volta para mim. Não sei se choro ou se rio apenas vou para perto de Derek e seguro sua mão – ele aperta forte – aquela mão que fazia fluir para a minha uma sensação de calma e alívio não existia mais. Agora sinto uma agitação, ele quer ficar, mas parece ser difícil. Seus olhos me encontram, não sei se eles transmitem alívio ou tristeza... será que ele queria voltar para o lugar de paz e amor?? E se eu também for embora? É esse o lugar que vou? – as enfermeiras saem apenas Meg fica.
Ando em passos lentos e sendo do lado da cama. Acaricio a mão de Derek e beijo-a suave.
-- Você não vai morrer. – Droga! Meus olhos se enchem de lágrimas.  – ele levanta a mão com bastante dificuldade. Decido chegar mais perto dele.
-- Você assim Beth... – suga o ar no intervalo de cada palavra falada.
-- É. Estou assim.
Ele sente meu rosto e enxuga as lágrimas com polegar.
-- Não devia.  – sua mão encontra meus lábios.
-- Você me assustou. – falo meio áspero demais. – só depois percebo.
-- Você não me deixou em paz. – um sorriso se forma devagar em seu rosto.
-- Engraçadinho. – eu rio. – ele abaixa o braço e olha para cima.
O sorriso some em questão de minutos, consigo ver a tristeza em seus olhos, mesmo estando de volta minha certeza era de que ele preferia está nesse lugar – Derek não pode desistir de viver. Meu Deus, porque não quero deixa-lo partir?
-- De novo, você me salvou Beth...  – ele vira a cabeça para me encontrar – respira fundo e continua -- obrigado.
Levo os lábios em sua boca e beijo-o.
-- Enquanto o meu coração não parar – pego a mão de Derek e coloco entre meus seios – o seu também não para.
Ele fecha os olhos sentido meu coração bater na palma da sua mão. Derek nunca havia o sentido dessa maneira. Pior. Nunca ninguém pôs a mão nesse lugar. Respiro fundo sentindo o calor daquele toque.
-- Filho!  -- me levanto rápido da cama e sento-me na cadeira. – Que susto.
A mãe de Derek corre até a cama e o abraça tão forte que achei que a máscara de oxigênio havia caído do seu nariz. – ela chora e fico ali observando quantas vezes isso deve ter acontecido. Seu rosto afunda e se esconde no ombro de Derek. Fico ali imaginando quantas vezes ele foi e voltou novamente. É uma dor não saber o dia certo, o momento certo e a hora certa... – ela enxuga as lágrimas e me olha – está pior que antes.
Levanto-me
-- Obrigada Beth -- ela sussurra no meu ouvido abraçando-me forte.
-- Não fiz nada – respiro fundo e falo baixo.
Ela segura meu rosto com as mãos.
-- Fez sim, ele a ama. Você é tudo o que ele precisa.  
Olho para Derek, que agora parece bastante cansado. Seus olhos querem fechar mais ele luta para ficar bem acordado.
-- Ele precisa descansar um pouco – Meg nos interrompe – Tive que aplicar uma quantidade maior de morfina, ele vai dormir em poucos minutos. É melhor que alguém esteja com ele quando acordar -- a mãe do Derek tira lentamente as mãos do meu rosto.
Mais morfina? É se ele não acordar? Tento encarar a situação meio confusa, mas não duvido da capacidade de Meg.
-- Eu fico – olho para mãe do Derek como quem diz Não! me deixe ficar com ele, me deixe ficar com ele ...
-- Você esta exausta Beth – ela pega minha mão e coloca um chaveiro com três chaves. – ligue para sua mãe e diga que vai passar á noite em minha casa. Você pode dormir no quarto do Derek. – não sei como ela confia tanto em mim. Mas gostei dela no instante em que a vi.
A luz ensolarada da manhã invade o quarto quando Meg abre a janela. – não tinha percebido que já estava claro lá fora.
-- Dormir? Na sua casa? – ainda não acredito que vou estar mais uma vez, naquele lugar onde mesmo longe sinto o perfume e a presença de quem um dia esteve ali. Derek.
-- Se sua mãe concordar é claro – ela senta do lado da cama – é melhor avisa-la.
Derek adormeceu, foi derrotado pelo sono e o cansaço. Fico aliviada em saber que ele inspira e expira. Pouco. Mais isso era tudo o que eu queria, ele vivo. Vou para perto dele e toco suave seu rosto.
-- Eu volto amanhã – sussurro e beijo sua testa.
A verdade, é que meu medo de perdê-lo aumentou assim que ele voltou. É difícil se contentar com a realidade, morte não tem hora e nem avisa quando chega, simplesmente acontece – mas não quero que aconteça, não com ele.
Respiro fundo e sigo até a porta, mas olho para trás.
-- A proposito, como a senhora se chama?  -- ela me olha com um pequeno sorriso se formando nos lábios.
-- Helena. 
Posso dizer que isso já é um começo – será que posso chama-la de sogra? Minha mão se fecha com as chaves e eu saio do quarto. Aliviada pelo susto que Derek me fez passar e feliz por não ter que me referir a minha sogra sempre como “A mãe do Derek”.
Assim que fecho a porta me deparo com mesmo corredor. Vazio. Sem ninguém. Começo a andar por ele com a mão atolada em uma das bolsas que Meadow que me deu, encontro tudo com a intuição e a força do tato, menos meu celular brilhos labiais, espelho, papéis, meu antigo óculos – ainda não conseguir me desfazer dele completamente. Achei. – finalmente. Começo a discar o número da minha mãe quando uma ligação atrapalha. – era Scott.
-- Oi -- minha voz sai meio amarga demais – ele percebe.
-- Desculpe Beth, eu não queria ter tratado você daquela forma – meus passos ficam mais rápidos.
-- Scott não é uma boa hora para nós... – congelo quando passo pela recepção.
Meus olhos fixam num cartaz com os dizeres “Doadores vivos” mais embaixo “Decida-se pela vida”.
-- Beth? Beth? Você esta ai?  -- ouço apenas os ruídos de Scott do outro lado da linha.
-- Depois eu ligo – falo rápido e aperto em finalizar chamada.
Sempre na vida pessoas nos mostram soluções, não importa o momento. Mas aquele cartaz me mostrou tudo o que preciso saber. E o que preciso fazer. Doadores vivos. Isso me assusta, não pelo fato de tirarem uma parte de mim, mas de como seria arriscado para Derek – eu preciso tentar – mas sozinha não posso. Derek terá pulmões pequenos, mas como tinha pensado é melhor do que não ter nenhum. Talvez ele morra antes de coloca-lo na lista ativa. Ando para porta e saio do hospital procurando Jeannette no meio de outros carros no estacionamento. 

Solução
...............................................................................................................................
                                                                                                           Capitulo 33 





    “Eu e minha boca. Devia ter                  ficado calada. ”
 Seguro firme o celular no ouvido quase apertando.
--- Mãe, você sabe o quanto isso é importante para mim. – grito esperando uma resposta razoável.
--- Como Derek está?  -- ela fingi que não ouviu nada do que eu falei  – respiro fundo.
-- Mãe, ele não está bem. Achei que ele morreria hoje – tento me controlar e não entrar em desespero de novo – precisa me deixar fazer isso.
Silêncio. Não ouço nada do outro lado.
-- Falamos disso depois, quando você chegar em casa e tiver tirado essa ideia horrível da cabeça.  – agora ela esta nervosa -- mãe! Espere! –  ouço apenas sua respiração.
-- Posso dormir na casa do Derek?  -- minha voz não sair como queria e em vez de parecer natural emana uma espécie de ansiedade.
-- Ah, Beth – tento manter o celular firme com o ombro enquanto diminuo a velocidade de Jeannette. Mais a frente à estrada se divide em duas. Posso ir para minha casa ou para casa de Derek. Decido o caminho antes de esperar a resposta.
 -- E a escola?  -- ela pergunta e nem me deixa falar – os trabalhos que você precisa fazer?
Acelero rumo à casa de Derek esperando que ela me deixe mesmo ir. Não quero voltar o caminho.
-- Escute, disse que voltaria depois do... – engulo em seco, mas não termino a frase. Ela sabe, só não quer ouvir falar em transplante – Posso continuar fazendo meus trabalhos em casa ou no hospital, não me afetou em nada. – faço uma curva para passar pelo portão da casa de Derek.
O celular fica mudo novamente.
-- Está bem querida -- percebo que sua voz tenta ser razoável, mas não chega nem perto.
Desligo. E estaciono Jeannette perto da porta próximo a moto de Derek – porque não passei por cima? Noto que a casa está mas mais limpa, inclusive o quarto de Derek – acho que ela já havia imaginado que viria. Olho em volta – tudo esta em seu devido lugar. Coloco minha bolsa na mesinha ao lado da cama e deito, naquele lugar onde os lençóis mostravam a marca do seu corpo – agora esta tudo arrumado. Fico sonolenta e meus olhos se fecham devagar, só lembro-me de ouvir a voz de Derek – Ninguém vai corta-la... – não vir quando adormeci.
O toque do meu celular dispara – acordo num pulo.
-- Oi -- a voz de Helena me deixa calma -- fico sentada na cama.
-- Oi
-- Tem alguém perguntando por você -- ela fala e ouço baixo uma tosse seca, abafada e familiar.
Meu coração fica acelerado.
-- Beth... – tosse e não consegue mais continuar. Não consigo conter a emoção e a felicidade que sinto – é tão bom ouvi-lo de novo.
-- Oi meu amor – meus lábios desenham um sorriso no rosto.
Helena pega o telefone. Ouço apenas Derek tossir.
-- Ele esta como antes Beth, não melhorou e nem piorou – sussurra, mas consigo ouvi-la bem.
Levanto e seguro o celular com ombro olhando-me no espelho. Tentando dar um jeito no meu cabelo armado.
-- Chego ao hospital em poucos minutos – prendo a liga e ele fica tolerável.
-- Calma Beth -- consigo parar bem na porta do quarto – você comeu alguma coisa quando chegou?
Fico parada tentando lembrar a ultima vez que comi alguma coisa. Nossa já são sete horas – quanto tempo dormir? Ando até a sala e olho pela janela – está escuro lá fora.
-- Não comi nada ainda – falo imaginando que ela não vai me deixar ver o Derek enquanto não comesse algo.
-- Meg ficará com Derek por alguns minutos. Comemos, e depois voltamos. Chego em vinte minutos. 
-- Tudo bem...  – obedeço
Não. Não está nada bem. Cada segundo que passo longe de Derek parece ser o último – porque sinto que tudo está chegando ao fim? Que está tão decido acabar na hora exata como uma partida de futebol. Tendo medo de não está lá quando acontecer. –Droga! Ele não vai morrer. Eu posso salva-lo. Eu e outra pessoa saudável. É tudo o que ele precisa – lembro-me de tudo que li nos livros que Helena me deu, principalmente uma parte que fala sobre os receptores sofrerem danos piores depois da operação e quanto é grande o risco do órgão transplantado não ser compatível, fora o fato de que preciso da autorização da minha mãe e de Helena – não existe uma vantagem sequer para menores de idade. Sento em uma cadeira perto da mesa onde posso ver meu reflexo de tão limpa.
A porta se abre e Helena entra.
-- Como ele está?  -- levanto rápido.
-- Pior  – a tristeza tomou conta completamente e qualquer vestígio de esperança que havia em seu rosto foi embora – ela puxa uma cadeira e senta-se ao meu lado. Põe as mãos no rosto. E chora.
-- Talvez eu possa ajuda-lo – sento e toco seu ombro devagar.
Seu olhar me encontra. Ela enxuga as lágrimas com a palma da mão – respiro fundo e tento não deixa a emoção tomar conta de mim.
-- Derek precisa de um transplante o quanto antes – seu rosto fica sério.
Me pergunto se foi uma boa ideia tocar no assunto.
-- Sou saudável, posso doar um pulmão – tento explicar sem muita enrolação – Só precisamos de outra pessoa que possa doar outro.
Silêncio total.
-- Isso é muito arriscado Beth! Já imaginou quantos riscos Derek e você pode correr? – ela fica nervosa e sua voz sai ríspida demais.
-- Mas se não arriscarmos ele pode morrer!  -- também saio de mim.
Ficamos uma olhando para outra.
--- Beth... – ela respira fundo
--- Você não pode ser doadora, não tem a idade para isso e você sabe os danos que pode causar a sua saúde?  -- fico em silêncio.
--- Pode abrir mão de fazer várias coisas Beth – como se eu me importasse com isso, já não faço nada mesmo - Não! Perai. Eu canto.
Fico pensativa. Mas o silêncio não demora.
--- É para salvar uma vida, a do seu filho Helena – falo esperando que ela atenda ao meu apelo. Derek pode morrer agora mesmo. E eu não estarei perto ao menos para beija-lo pela ultima vez.
Ela suspira e tira um lenço do bolso da sua jaqueta jeans.
--- Ele ainda era uma criança Beth, tentamos de tudo. Antibióticos, internações... – a tristeza é visível a cada palavra dita.
--- Quando soube do transplante e de doadores vivos, decidir fazer os exames o mais rápido possível, Leon também decidiu fazer – Leon? Quem é Leon?  -- ela percebe que não faço ideia de quem seja.
--- O pai de Derek --- ela completa
Faço que sim com a cabeça.
--- Quando os resultados dos exames saíram, tivemos uma surpresa – meu olhar curioso observa atentamente.
--- Somos incompatíveis, do ponto de vista da típagem sanguínea – ela enxuga o rosto com lenço.
Como assim? Eles são os pais. O parentesco mais próximo que Derek tem. Droga. A medicina avança a cada dia e ainda não tiveram uma solução caso o sangue não seja compatível.
--- Helena, eu preciso fazer esse exame. Você deve saber o quanto é importante para mim – meu tom desesperado ganhou completamente sua atenção – precisa me deixar fazer isso.
Ela fica pensativa. Seu olhar transmite uma tristeza. Talvez de sofrer outra vez, de criar esperanças e depois se afundar mais ainda na dor. O fato é simples, Derek precisa de mim e eu preciso dele – e se meu sangue também não for compatível? Não! Não quero nem pensar nisso.  Helena se levanta e vai até a prateleira na sala onde estão vários livros – ela levanta o braço e pega um. Chega ao meu lado e senta-se novamente.
O livro tinha um titulo já esperado “Doadores Vivos”. Este não estava junto com aqueles que li no hospital -- ela parte o livro ao meio. Estava cheio de papeis com símbolo do hospital. Todos iguais – porque tantas cópias? Helena retira apenas um. Curvo a cabeça para ler melhor o que tem inscrito no papel. Ótimo. Vou receber um questionário com centenas de perguntas do tipo: Você bebe? Você fuma?  Você é usuário (a) de drogas? Qual seu tipo sanguíneo?  Você pratica alguma das atividades abaixo?  Dançar, correr, nadar, cantar, academia, esportes radicais e bla bla bla.
Ela apoia o papel na mesa e assina embaixo onde pede a assinatura do responsável pelo receptor – meus lábios desenham um sorriso enorme que se desfaz logo quando vejo, mas abaixo “assinatura do responsável pelo doador(a)”
-- Você precisa preencher essas informações – pego o papel vendo tudo o que preciso responder, mas pensando em como convencer minha mãe a assinar – Depois pode me devolver, em uma semana saíra o resultado.
Observado aquele papel. Desejando que meu sangue seja compatível com o de Derek e que eu tenha forças para mante – lo vivo até o transplante.
-- Agora precisamos colocar alguma coisa no estômago – Helena sair para cozinha.
Tão perto que posso ouvi-la mexendo nas panelas. Deus, e se eu não for compatível? O que eu vou fazer? Sair em busca de alguém que queira se doador? – olho para o livro que Helena deixou na mesa e o parto ao meio. No meio de várias cópias de questionamento para doares vejo uma folha de caderno dobrada. Nela tinha inscrito “Doadores”. Mas embaixo todas as pessoas próximas ao Derek tios, irmão, avós, amigos e seus devidos tipos sanguíneos – Blake e o coro do Amabile inteiro esta na lista. Derek tem um irmão? Que sangue raro é esse? Olho mas ao lado e encontro à resposta O - .
Meus dedos passam pelo papel acompanhando cada nome inscrito e riscado. Nenhum compatível.
--- Por isso precisávamos de muitas cópias --- Helena aparece com dois pratos de macarrão um em cada mão --- Eram muitas pessoas dispostas a ajudar.
--- Desculpa! Eu não queria... – jogo a folha no livro e fecho bem rápido.
--- Não, não tem problema Beth -- ela senta ao meu lado e coloca um prato na minha frente --- essa é a comida preferida de Derek.
Respiro fundo. Sinto o cheiro que sair do macarrão e atinge meu olfato. Me lembra tanto ele.    
--- É especialidade dele -- os lábios de Helena mostram um pequeno sorriso --- vivia pedindo para mostrar como se faz.
--- E ele aprendeu direitinho --- sorrio e dou várias garfadas.
Ela não come muito. Dava uma, duas garfadas, mas não mostrava interesse em comer. Eu, pelo contrário. Raspei o prato.
--- Vou lavar os pratos --- Helena pega seu prato e o meu e vai para a cozinha – não demoro.
 Levanto. Vou até o quarto de Derek pegar uma caneta para preencher o questionário, procurei em todas as gavetas da mesa do computador. Não achei. Tinha várias letras de música espalhadas --- composições de Derek. Com certeza. Estava tão perfeitas. Minha vontade era de ler todas, mas a pressa tomava conta de mim. Cada minuto que ele permanece respirando já é um milagre. Mas preciso dele vivo. Morrer? Jamais. Embaixo de toda montanha de papel encontro uma caneta preta – sento na poltrona quente e macia de Derek. Respondo todas as perguntas. Muitas com não. Algumas com sim. Minha mão para assim que termino todas as perguntas, só preciso de uma assinatura – e vou conseguir.
O caminho de volta para o hospital foi calmo. Não falamos uma só palavra -- olho para Helena e a vejo com a atenção toda na estrada. Meu rosto cansado tenta não adormecer no caminho. A sirene de umas das ambulâncias que havia acabado de chegar ao hospital me fez saltar dentro do carro. Chegamos – abro a porta rápido e vou correndo para o quarto de Derek. Nem olho para trás...
--- Beth! Vá devagar!  --- só ouço o grito de Helena.
Corro desviando cada obstáculo em meu caminho, enfermeiros, médicos e pacientes. Chego até o quarto dele – abro a porta devagar. Derek dormia com a máscara de oxigênio no rosto. Ando em passos lentos até a cama fazendo o máximo para não acorda-lo.  
--- Beth – ele mexe os lábios lentamente.
Achei que estava sonhando comigo, mas seus olhos abrem desenhando um sorriso lindo direto para mim. Ele tira a máscara do rosto. Como adivinhou que era eu? Como o acordei? Queria poder controlar meu desejo. Derek respira muito pouco, quase não o ouço mais --- sento do meu lado da cama e beijo-o. Sinto seus lábios secos e salgados, coloco minha língua na sua boca e nossos lábios se encaixam perfeitamente. Mas ele para. Cada vez o tempo diminui. Sempre percebo como aquilo o prejudica. Mas é o suficiente para matar a saudade dele. Agora não podemos mais abusar.
--- Como sabia que era eu?   --- pergunto ainda confusa --- não fiz barulho nenhum --- beijo-o novamente.
--- Sentir – ele faz uma pausa – sentir seu perfume.
--- Mas não estou usando perfume --- cheiro meu braço para ter certeza.
Na verdade mal lembro a última vez que tomei banho – ah! Estava no quarto de Derek. E ainda estou com a camisa dele. Devo esta fedida e ele sendo educado.
--- É uma essência exclusiva. Só você tem --- viro o rosto e tento cheirar por baixo da gola da blusa.
Não fede. Volto e vejo Derek deitado de um lado da cama deixando o outro livre --- olho para aqueles tubos assustadores e penso se aquilo seria uma boa ideia – ele faz uma cara de inocente. Sorrio. Por ele parecer melhor pelo menos um pouco. Deito do meu lado da cama.
---- Não sabe o quanto queria sentir seu corpo --- ele tosse e respira fundo.
Tento parecer normal perto de Derek, mas tem horas que não consigo e minha cara de assustada toma conta de tudo --- encolho-me e coloco minha cabeça em seu peito sem foçar muito.
---- Eu também – sussurro.
Ele movimenta o braço e aperta o botão de assistência.
--- O que foi? O que está sentindo? – dou um pulo na cama.
--- Não Beth, calma --- sua mão encontra a minha e me faz sentir melhor --- está tudo bem...
Meg coloca a cabeça na porta acompanhada por Helena.
--- Eu quero tirar essa roupa --- Derek ergue os braços.
          Helena me olha com um pequeno sorriso nos lábios. Fico vermelha. Meg se aproxima de nos observando as máquinas – viro para sair da cama quando Derek segura minha mão.
          --- Não, fica --- sussurra baixinho --- olho para Helena que autorizava aquela intimidade fazendo “sim” com a cabeça.
         Meg o ajudava a tirar a camisola com cuidado para não puxar a seringa e o tubo em seu estômago – Derek vai ficar pelado? Não pode ser. Controlo minha ansiedade observando as partes que posso ver do seu corpo descoberto -- meus olhos seguem por cada pedacinho de pele que não podia ver, até agora --- ele repara, mas mesmo assim continuo meu trajeto, seus ombros, peito, barriga. Infelizmente o lençol começa a cobri-lo do abdômen. O tudo de alimentação em seu estômago fica amostra. É estranho notar que aquele líquido desaparece em sua barriga em questão de segundos. Esse corte me assusta.
         --- Tem certeza que você não quer ficar vestido? --- Meg pergunta antes de sair.
         --- Tenho, estou meio enjoado disso --- ele tosse duas vezes e deita na cama ---- preciso respirar um pouco.
         --- Filho preciso ter uma conversa com Meg. Depois eu volto --- elas saem do quarto.
         Helena fecha a porta. Me olha como quem diz – Eu vou tentar. Vai dar tudo certo. Mas não consegue esconder o medo e a tristeza que fluir assim que o assunto se trata de Derek --- observo ele deitado. Seu peito nu. Minha imaginação sai de controle – como posso pensar nessas coisas?
         ---- Tinha que ficar desse jeito?  --- pergunto olhando seu corpo e chateada por haver uma luta dentro de mim.
Querer e não querer! Poder e não poder! Desejar e não desejar! – mas esperai, deveria ser desejar e desejar. Ainda quero tudo que não posso fazer com ele agora.
---- Estava mesmo enjoado --- ele sorri --- às vezes eu fico de samba canção.
---- Não sabe o que posso fazer com você --- ELE TINHA QUE SE DESPIR DESSA MANEIRA!
--- Sério Beth! Ficar com essas roupas de hospital o tempo todo é muito chato ---- seus olhos encontram o tubo de alimentação em seu estômago e o sorriso se desfaz --- só não queria que olhasse isso.
---- Eu não me importo... --- meus lábios beijam seu pescoço e desce devagar. Ele geme.
Sinto pela primeira vez meus lábios em seu corpo. Eles descem beijando em linha reta provando o gosto do corpo de Derek --- ah, se eu conseguisse controlar meu desejo.
 Querer sempre mais do que não posso ter. Porque ele faz isso comigo? Sabe que não resisto. Minha boca se abre e minha língua sente o gosto salgado da sua barriga --- meu rosto vira devagar.
Vejo o tubo em seu estômago e faço o máximo para não encostar. Minha excitação me faz descer os lábios mais abaixo – espero que Helena não apareça agora. Olho para Derek. Ele está com olhos fechados e respira ofegante. Vai ser agora? Aqui? Numa cama de hospital? A razão bateu em minha porta e eu abrir.
--- O que foi? --- Derek pergunta ofegante --- desculpa isso é mesmo estranho --- ele olha para o tubo em sua barriga.
--- Não, não, seu aparelho não tem nada haver --- volto e deito do meu lado da cama.
--- Entendo --- ele abre um sorriso encantador.
Beijo-o. E deixo meus dedos sentirem seu corpo, fazendo o contorno do seu peito em movimentos leves e deixando que deslizem até a barriga. Minha mão finalmente repousa. Derek toca suavemente meu rosto.
---- Canta para mim?  --- ele respira ainda ofegante.
---- Não --- respondo zangada --- a última vez que eu cantei você quase me deixou --- viro e cruzo os braços.
 Fico observando o teto do quarto. Imaginando como queria ter morrido também se Derek me deixasse naquela noite. Às vezes tenho sinto medo. Por nós. Se ele morrer, eu posso deixar de viver.
  ---- Ah Beth... --- suspira --- eu queria muito ter morrido naquele dia ---- viro para Derek extremamente rápido.
---- O que? Por quê?   ---- o nervosismo vai às alturas.
Silêncio.
---- Responde!

---- Beth --- ele puxa o ar e solta --- que diferença faz? Hoje... Amanhã --- seus olhos brilham de lágrimas que são forçadas a não cair --- eu vou morrer mesmo...



CONTINUA...

twitter @leska_brigitte